A Hungria é
conhecida como um país
conservador na Europa Central, apesar de não tão religioso como a Polônia, por exemplo. Por essa razão, a comunidade LGBT passa por alguns
bocados para viver a vida normal que todo ser humano deveria levar independente
de qualquer coisa. É contraditório pensar que em um país que as pessoas são mais individuais e focadas na própria vida, incomode tanto o fato da
pessoa escolher com quem ela quer ficar.
Mas se tem uma coisa que dá
orgulho na Hungria é justamente a resistência. Em 1997, quando o mundo inteiro
era bem mais fechado do que é hoje,
aconteceu a primeira marcha do orgulho gay em Budapeste, com poucas pessoas. Vinte
anos depois, eu tive a oportunidade de participar dessa mesma marcha.

A empresa em que eu trabalho tem diversos grupos de afinidade
incluindo para a comunidade LGBT e na pr
évia do
evento distribuiu camisetas e bandeiras para levarmos. O que mais me chamou
aten
ção foi a reuni
ão no dia anterior que tinha como
objetivo falar sobre seguran
ça. Em
anos anteriores os participantes sofreram ataques de grupos extremistas e
manter-nos seguro era uma prioridade para a empresa. Nos informaram que era
preciso chegar no hor
ário
correto para entrar pelas entradas oficiais do evento j
á que todo o caminho seria cercado e n
ão seria permitido entrar mais ningu
ém. Isso tudo, segundo o governo, para
proteger os participantes.
É muito
estranho pensar em cercas em uma passeata em prol da visibilidade. Outra indica
ção da empresa foi n
ão andar sozinho e com as camisas
depois do evento, ou carregar as bandeiras de forma vis
ível. E eu pensei, se temos que fazer isso por um dia,
imagina quem tem que fazer isso todos os dias? Esconder o que
é?

A parada foi linda. Tinha gente de todas as idades, fam
ílias, muitas empresas envolvidas com
seus logos estampados junto a muito arco-
íris. As
pessoas paravam pedindo para tirar fotos com as bandeiras, mas sem d
úvidas o ponto mais bonito foi um pouco
antes de atravessar a ponte mais famosa da cidade. Da sacada de um pr
édio, uma senhora bem idosa e aparentemente doente, apontava para baixo e batia palmas. Como se de alguma forma ela quisesse dizer
que est
ávamos no caminho certo.
Tudo terminou no lado Buda da cidade, de forma pacífica, sem incidentes e bonita. Eu sei
que é difícil falar sobre algo que a gente não vive, mas sempre acreditei que a gente só vai vencer se for junto e eu
acredito que estou do lado certo da luta. Para as pessoas que eu tanto amo, que
lutaram e ainda tem que lutar tanto para ser quem são, contem sempre comigo para levantar a bandeira de um
mundo mais igual.
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