Cheguei
em Budapeste ontem, depois de 4 semanas inteiras no Brasil, com uma vontade
imensa de viver o que realmente é a cidade.
Algumas
semanas atrás eu havia visto um evento chamado Kazinczy Living Library.
Kazinczy é o nome de uma rua muito conhecida no distrito 7, no bairro judeu e é
onde fica o bar mais famoso da cidade, Szimpla Kert. Eu gosto desse bar porque
ele está extremamente ligado à comunidade e por isso acontecem muitos eventos como
o que eu fui hoje.
Living
Library é um conceito de biblioteca humana onde quem conta as histórias não são
livros, mas pessoas. Kazinczy Living Library faz diversos eventos em que o
objetivo é promover respeito, dialogo e desafiar os estereótipos e
discriminação entre diferentes grupos sociais.
Além
do Kazinczy Living Library também estava envolvido o MyBudapest Photo Project que fez a exibição de fotos tiradas por moradores de rua da forma que eles veem
a cidade. Com o tema “crise habitacional”, tivemos a oportunidade de falar com
pessoas que sofreram remoções, moraram na rua, em albergues, ativistas e etc.
Uma
das histórias que ouvimos foi de uma senhora que é funcionária pública e tem um
salário tão baixo que eu perguntei assustada se ela realmente morava em
Budapeste, já que os alugueis aqui estão cada dia mais caros. Nascida aqui, ela
já teve um emprego melhor. Durante o tratamento de câncer de mama, não tinha
condições de trabalhar e precisou de ajuda de uma ONG para não ficar sem onde
morar. Ela sonha em voltar a trabalhar em algo melhor remunerado, mas para isso
precisa de renovar alguns certificados que exigem dinheiro. O que ela ganha não
dá nem para o básico. Quando eu perguntei como ela via o futuro, Erzsi disse que
tem esperança de dias melhores, que é preciso ter esperança.
Seguimos
para conversar com um senhor de 60 anos que participou do projeto de
fotografia. Perguntei sobre ser proibido os moradores de rua dormirem em
espaços públicos durante o inverno sob alegação de estarem correndo risco de
morte. Ele revelou o outro lado, o dos albergues da cidade em condições precárias
de higiene, que não querem a melhoria de vida dessas pessoas para garantir a
lotação e seus lucros. Ele perdeu a sua esposa para o câncer e no mesmo período
teve um acidente de carro durante o trabalho que o deixou desabilitado. Perdeu
o emprego, a casa que era da família da esposa foi vendida perdendo também onde
morar. Contou também sobre o preconceito e como os moradores de rua são
discriminados quando tentam arrumar emprego. “É um ciclo”, ele disse. “Não tem
como sair disso”. Jozsef disse que quer movimentar a sociedade através de
protestos pela causa dos moradores de rua. Eu confirmei presença e a gente riu.
É preciso ter esperança.
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